quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Sem criatividade, mas com muita vontade


Decidi criar esse blog porque parece que estou dando um tempo. Um tempo de várias coisas, de toda a agonia, de toda a confusão, de toda a ansiedade e insegurança que têm perpassado esses últimos dias pra mim. Na verdade, tenho tentado ver as coisas de um modo diferente, de um modo mais 'jovem', como diz a minha mãe (rsrsrsrsrs). A verdade é que eu sempre achei que precisava exercitar mais a escrita. Apesar de ser estudante de jornalismo, ainda preciso melhorar em muita coisa, e uma delas é justamente o escrever sobre tudo, já que as minhas palavras em formas jornalísticas, por motivos óbvios, resume-se a ciência, tecnologia, educação e meio ambiente. Se formos parar para analisar, esses quatro itens estão impregnados em todos os setores das nossas vidas, e é por isso que escrevo com muito prazer sobre essas coisas. Mas a maioria das vezes, o que eu consigo ouvir é: 'você é a menina científica', ou então, 'você é didática demais'. Não tem importância. Na verdade, eu até gosto... pior aqueles que não tem característica nenhuma, que você olha e não consegue ver nada além de um rostinho.

Esses dias eu fiquei indignada com duas matérias que vi no jornal Correio. O que podemos observar depois da reforma no design é que eles conseguiram um linguajar mais xulo e, com toda certeza, muito cara de pau. Eles se autodescrevem como jornal popular, mas acho que 'xulo' e 'popular' são coisas totalmente distintas. Engraçado como as nossas mídias, até a mais próxima, um jornal que custa R$ 1,00 e que poderia nos oferecer uma informação de qualidade, são totalmente elitistas, chega a ser ridículo. O jornal do dia 27 de outubro trouxe a manchete do crack na Barra, principalmente à noite, com o aumento do consumo dessa droga. Mas o que me deixou mais perplexa, estupefata e paralisada foi a linha de apoio da manchete, que dizia nas seguintes palavras, fielmente copiadas aqui: "Droga do Calabar e da Roça da Sabina atrai viciados e inferniza a vida de moradores e turistas no cartão-postal da cidade". Socorro, meu Deus, essa imprensa tem que morrer!

Tudo bem, é fato que existe grande consumo de drogas na região, mas é uma pena que um jornal que alcança grande parte da população soteropolitana (infelizmente), seja tão tendencioso ao ponto de abordar dessa forma um assunto tão delicado. Com uma pequena reflexão nós já percebemos: Quem são os moradores do 'cartão-postal da cidade'? Pessoas de classe média. A vida deles está sendo infernizada por duas comunidades nas quais crianças sofrem em situação de risco, sem poder ir à escola, e aprendem desde cedo com os atos dos seus pais a conhecer um mundo criminoso por falta de opção. Eles morrem de medo de uma comunidade em que meninas adolescentes estão grávidas ou foram molestadas e não tem nada pra comer em casa... Não estou defendendo o tráfico nem o consumo de drogas, mas ressaltando que a fome tira a DIGNIDADE de qualquer pessoa. Chega um certo ponto em que não se sabe mais o que se está fazendo, só há a certeza de que precisa-se de comida. Por que não abordar o assunto de uma maneira diferente, mais contextualizada? 'Por que está acontecendo tudo isso?' 'Por que muitos escolhem o mundo do crime ao invés de vender picolé, ser baleiro ou qualquer coisa parecida?' 'Quais são as sugestões para as pessoas viciadas?' 'O que NÓS, enquanto sociedade, podemos fazer para melhorar a situação ao invés de ficar esperando uma decisão da polícia?' São perguntas simples, que uma matéria de menos de uma página e com uma publicidade gigante seria capaz de abordar.

No dia seguinte, 28 de outubro, a "Barra Pesada" foi novamente uma das matérias de capa, e dessa vez, logo no comecinho da reportagem, o repórter diz: "Todos os dias o comerciante João (nome fictício) acorda e sai de casa para ir à padaria às 6h. Para deixar o prédio onde mora, ele é obrigado a driblar os meninos de rua que dormem na calçada (...). Segundo ele, todos são usuários de crack, a droga que tomou conta dos cartões-postais do bairro, e adotaram o local como dormitório". Coitado do seu João. Sai do seu prédio de luxo com todo o nível de segurança para comprar pão e ainda é obrigado a ver criancinhas drogadas e que tomaram o espaço da sua rua para dormir, como se não tivessem mais nada para fazer nem uma casa para morar. Realmente, seu João vive uma vida muito difícil!


Precisamos refletir, é claro. Mas depois precisamos agir. Fiquei bastante chateada com isso tudo, mas preciso consumir esse tipo de informação todos os dias. Espero não desanimar e acabar repetindo o que fiz com a Revista Época: tomei pavor e deve ter uns dez exemplares ainda dentro do plástico aqui em casa. Esses dias a Editora ligou dizendo que o pagamento estava em atraso e que caso não fosse efetuado, seria cortada a distribuição. Eu dei um legal para o meu pai e disse: "Isso, painho, isso! Cancelemos e contenhamos as despesas!"

6 comentários:

  1. Essa sua colocação sobre como os jornais vem noticiando o que acontece na cidade é muito boa. Esperar coisas inteligentes do Correio é pedir demais, não? O engraçado é o slogan: O que a Bahia quer saber.
    Aí me pergunto: quem lê o Correio para se manter informado e aguçar a análise crítica?

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  2. É Mari, você está certissíma. Mas como vc o buraco é bem mais embaixo, como mesmo a gente pode verificar na faculdade a maioria dos jornalistas vem da classe média e alta.Portanto eles só escrevem o que eles conhecem. O coitado do sue João, por exemplo. Para eles ser popular é ser baixo, xulo. Eles não sabem que "o povo" só consome o que pode consumir, o que oferecem a ele. Óbvio que há outras fronteiras além da econômica, afinal um semi analfabeto não entenderia muitas matérias do A tarde (principalmente se for do cad. de Cultura rs), portanto o Correio (e o Metropole) é a melhor opção. Se quem conhece a realidade da classe baixa não tem poder para escrever como culpar os jornalistas? Afinal eles jamais poderão escrever em Aramaico se só conhecem o Francês.

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  3. É por essa e outras razões que estarei sempre apoiando este blog. A forma como veículamos as informações e para quem, é que faz a grande diferença. Precisamos dispertar pro que esta acontecendo bem perto de nós.

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  4. É, a realidade é triste, gritante e ignorada...

    como já disse Roberto Carlos, "Todos estão surdos..."

    mas essa surdez lhes é conveniente, é optativa e nao patológica...

    mudando de pau pra cacete, eu tenho quedas, morro de amores por mulheres fortes...
    Não é novidade pra vc a minha paixão por Clarice e Malu, fico sempre dizendo q queria ser um pouquinho só como elas, o q eu nao tinha parado pra notar é q eu tenho uma Clarice/Malu ao meu lado, q é uma das minhas melhores amigas, uma versão menos ácida, é verdade, mas tenho!
    Continue Mari, vc está nos orgulhando muito!

    ;)

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  5. E assim caminha a humanidade!! Rumo a qual pódio, eis o mistério!!

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